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21:34

fashion, girl, and black image

As luzes estão apagadas e escrevo apenas com a claridade que provêm do ecrã do meu modesto computador. Lá fora a terrinha cidade adormece lentamente.

Tenho os meus olhos fixos numa fotografia e os meus dedos fixos num teclado.

Olho atentamente para a foto uma vez mais, como se nestas últimas semanas não tivesse olhado para ela todos os dias.

Duas raparigas sorriem-me. Uma tem um cabelo castanho espesso que lhe emoldura suavemente o rosto, uns olhos avelãs e um sorriso quase sarcástico, com os lábios pintados de um vermelho sangue a esticaram-se até uma covinha tímida. 

A outra sorri abertamente, de tal forma que parece iluminar todo o pequeno espaço da foto, trincando a língua, fazendo lembrar uma pequena criança traquina. Também existe qualquer coisa de infantil nos seus olhos. Uma vibração tão alegre e pura que faria qualquer um automaticamente querer estar em seu redor.

As duas raparigas parecem tão radicalmente diferentes que me custa acreditar que sejam amigas. 

A verdade é que não o são. A sua relação já à bastante tempo que ultrapassou essa simples barreira. Agora chamam-se de irmãs. Porque não? Quando olham nos olhos uma da outra sentem que podem contar coisas que não contam a mais ninguém, sentem que se compreendem, sentem-se completas. 

Agora já nem isso é necessário. Uma distância física enorme separa-as mas elas, no entanto, continuam mais próximas que nunca. Se a primeira rapariga entender a sua mão, de dedos finos e alongados, já não encontra a mão pequena e suave da segunda rapariga. Já não existem os abraços que existiam, nem a troca de olhares psíquica mas o importante continua lá. As suas almas continuam interligadas.

A primeira rapariga pensa muito na segunda durante o seu dia. Quando acorda diz sempre um "Bom Dia" para a fotografia, quando caminha sozinha até à faculdade imagina o quanto a outra iria adorar as simples coisas que lhe aparecem no caminho... O edifício mais belo a degradar-se, o cão que se deita ao sol, os alunos trajados, as pessoas que parecem verdadeiramente atarefadas, os carros que passam. 

Hoje a primeira rapariga ia na rua enquanto chovia. Como sempre o guarda chuva ficou em casa. Os seus cabelos estão ensopados, o seu nariz a pingar, as suas roupas amarrotadas mas, de um momento para o outro o sol aparece, iluminando tudo em seu redor.

A rapariga atira a cabeça para trás, fecha os olhos e em plena praça repleta de turistas, transeuntes e pombos solta a mais sonora gargalhada, sentindo as gotas frias deslizando-lhe pela cara misturadas com o intenso e súbito calor do sol.

Durante um segundo quase tinha sentido a gargalhada da segunda rapariga misturar-se com a sua. Ao levantar os olhos para o céu viu o que lhe pareceu o mais belo arco-íris de sempre. Sorriu e desejou que ela estivesse ali para o ver também.  

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