Lembro-me da forma como via o mundo, como se fosse todo um universo para ela descobrir, repleto de novas aventuras e novas gargalhadas a cada virar da esquina.
Lembro-me dela um bocadinho mais crescida... O mundo com que tanto sonhara estava guardado dentro dela, dentro da sua mente e era aí que passava horas, sozinha, longe das palavras e dos pensamentos negros dos outros.
Infelizmente, nessa época, lembro-me mais de a ver chorar do que de a ver sorrir.
Os anos passaram e só me lembro de a ver com raiva. A forma como achava que o mundo estava errado e que precisava urgentemente de uma revolução. Das suas emoções à flor da pele... Como podia passar de bestial a besta numa questão de segundos.
Lembro-me de ver uma mudança nela... Algo se acalmou. O fogo, que ardia desesperado e louco, tornou-se controlado e confortável dentro dela.
Pela primeira vez vi-a a confiar verdadeiramente nas pessoas, vi-a a fazer amigos, vi-a a dedicar-se aos seus sonhos...
Levanto os olhos e vejo-a ao espelho neste momento, fitando-me de volta. Não vejo uma criança sonhadora, não vejo uma pré-adolescente destroçada, não vejo uma adolescente enraivecida... Mas também não vejo uma mulher.
Que tipo de lembrança serei para um eu futuro?
-Ana C.
- 21:15
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